Contran aprova CNH mais barata e sem obrigação de autoescola; crise no setor é iminente

Contran aprova CNH mais barata e sem obrigação de autoescola; crise no setor é iminente dez, 2 2025

Em uma decisão que pode mudar radicalmente a forma como os brasileiros obtêm sua Carteira Nacional de Habilitação, o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) aprovou, por unanimidade, uma resolução que elimina a obrigatoriedade de passar por uma autoescola para fazer a prova prática de direção. A medida, aprovada em 1º de dezembro de 2025, pode reduzir o custo total da CNH em até 80%, derrubando barreiras que há anos impedem milhões de brasileiros de se habilitar legalmente. O novo modelo permite curso teórico gratuito e digital, aulas práticas com instrutores credenciados pelos Departamentos Estaduais de Trânsito (Detrans) e abertura do processo pelo site do Ministério dos Transportes ou pela Carteira Digital de Trânsito (CDT). O ministro dos Transportes, Renan Filho, chamou a mudança de "política pública de inclusão produtiva" — porque, segundo ele, "habilitação significa trabalho, renda e autonomia".

Por que isso importa para 50 milhões de brasileiros?

Hoje, cerca de 20 milhões de pessoas dirigem sem CNH no Brasil, e outros 30 milhões têm idade para tirar a carteira, mas não conseguem arcar com os custos, que podem chegar a R$ 5 mil em alguns estados. O preço alto vem da estrutura rígida das autoescolas: aulas obrigatórias, materiais caros, taxas de inscrição e até cobranças extras por "revisões". A nova resolução permite que o candidato estude sozinho, por aplicativos gratuitos aprovados pelo governo, e escolha instrutores independentes, credenciados pelos Detrans. Isso tira o monopólio das autoescolas e abre espaço para concorrência — e, com ela, preços mais baixos. O Centro de Liderança Pública (CLP) apoiou a medida, lembrando que 40% dos veículos em circulação são conduzidos por pessoas sem habilitação — e que esses motoristas aparecem com frequência desproporcional em acidentes graves. "Reduzir esse número não é só justiça social, é segurança pública", afirmou o CLP.

A reação do setor: crise e resistência

Enquanto o governo celebra, o setor de autoescolas entra em pânico. A Federação Nacional das Autoescolas (Feneauto), liderada por Ygor Valença, anunciou que vai acionar o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional. Valença alega que o Contran "infringe competência legislativa" — ou seja, que só o Congresso pode decidir sobre regras de habilitação. "É um fato consumado criado pelo Executivo", disse ele, em entrevista. A Confederação Nacional do Comércio (CNC) confirmou que protocolará uma ação no STF em 2 de dezembro de 2025, e já prepara um Projeto de Decreto Legislativo (PDL) para suspender a resolução assim que for publicada no Diário Oficial da União.

Na Câmara dos Deputados, o presidente Hugo Motta (Republicanos-PB) criou, em 2 de dezembro de 2025, a Comissão Especial para o Plano Nacional de Formação de Condutores. O objetivo? Revisar a resolução do Contran. "Não estamos contra a democratização, mas contra a violação do processo legislativo", afirmou um assessor de Motta. O setor busca aliados entre deputados que recebem financiamento de autoescolas — e já há sinais de que a proposta pode enfrentar resistência no Legislativo, mesmo entre partidos que defendem a inclusão social.

Qual o impacto real nas autoescolas?

A estimativa é alarmante: mais da metade das autoescolas em Minas Gerais podem fechar as portas nos próximos 12 meses. Em estados como São Paulo e Rio de Janeiro, o cenário é semelhante. Muitas delas já operam com margem apertada, e a perda da obrigação de aulas práticas — que respondem por até 60% da receita — pode ser fatal. "Nós não somos vilões. Somos profissionais que investiram em infraestrutura, veículos, instrutores e segurança", disse um proprietário de autoescola em Belo Horizonte, que pediu para não ser identificado. "Mas o sistema está obsoleto. O problema é que a solução do governo não vem com um plano de transição. Não há apoio para os pequenos, só desmonte."

Na contramão, o Ministério dos Transportes afirma que a nova estrutura não elimina a qualidade — apenas a centralização. "O candidato ainda fará exames médicos, psicológicos, teóricos e práticos. A diferença é que ele pode escolher quem o ensina, e não ser obrigado a pagar um pacote caro", explicou uma fonte da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran). O modelo se assemelha ao de países como Alemanha e Canadá, onde instrutores independentes são comuns e os custos são significativamente menores.

Quais são os próximos passos?

Quais são os próximos passos?

A resolução ainda não foi publicada no Diário Oficial da União — e isso é o ponto de virada. Enquanto isso, o STF pode ser chamado a decidir se o Contran tem poder para alterar regras que, até agora, eram definidas por leis federais. A Câmara, por sua vez, pode aprovar o PDL e suspender a medida até que um novo marco legal seja discutido. O governo, porém, já sinalizou que não recuará. "Se o Congresso quiser discutir, que discuta. Mas a CNH de R$ 5 mil não é sustentável. E não é justo", disse Renan Filho em coletiva.

Como isso afeta quem quer tirar a CNH agora?

Para quem está na fila, a mudança é uma luz no fim do túnel. O novo sistema deve começar a funcionar em até 90 dias após a publicação da resolução. O curso teórico será gratuito e acessível por celular. As aulas práticas poderão ser agendadas diretamente com instrutores credenciados — e os valores serão negociados livremente. O exame prático continuará sendo aplicado pelos Detrans, com os mesmos critérios de segurança. A expectativa é que, em dois anos, o custo médio da CNH caia para entre R$ 800 e R$ 1.200, dependendo do estado.

Frequently Asked Questions

Como funciona o curso teórico gratuito?

O curso teórico será disponibilizado por uma plataforma digital oficial do Ministério dos Transportes, com videoaulas, simulados e conteúdo alinhado ao novo Código de Trânsito. Não há cobrança, e o acesso é feito pela Carteira Digital de Trânsito (CDT) ou pelo site do ministério. O candidato pode estudar quando quiser, repetir as aulas e fazer o exame teórico no Detran quando se sentir preparado.

Posso fazer a prova prática com um instrutor particular?

Sim. Qualquer condutor com mais de 10 anos de CNH, sem infrações graves nos últimos dois anos, pode se credenciar como instrutor junto ao seu Detran estadual. Eles devem passar por treinamento e inspeção veicular. O valor das aulas será livre, mas a concorrência deve pressionar os preços para baixo — e os candidatos podem escolher entre vários profissionais, comparando custos e avaliações.

A resolução é inconstitucional, como dizem as autoescolas?

O Contran tem poder normativo para regulamentar o Código de Trânsito Brasileiro, e já fez mudanças semelhantes no passado — como a adoção da CNH digital. O STF já decidiu, em 2021, que o órgão pode atualizar regras de habilitação sem precisar de nova lei. A disputa jurídica vai girar em torno de se a mudança altera o cerne da lei ou apenas a forma de execução. A maioria dos juristas acredita que a resolução é válida.

Quais estados já estão preparados para implementar a nova regra?

São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná já têm sistemas digitais avançados e podem implementar a mudança em até 60 dias. Estados menores, como Acre e Roraima, ainda precisam de investimento em infraestrutura. O Ministério dos Transportes anunciou um fundo de R$ 150 milhões para apoiar os Detrans na digitalização e na capacitação de instrutores independentes.

E se eu já estou na autoescola? Preciso começar tudo de novo?

Não. Os candidatos que já estão matriculados em autoescolas podem optar por continuar o processo normalmente ou migrar para o novo modelo. Se optarem pela mudança, os valores já pagos serão creditados na nova modalidade, e o Detran deve garantir a transferência dos documentos. A transição é flexível — o objetivo é não penalizar quem já começou.

A segurança vai diminuir com a flexibilização?

Não. O exame prático continua sendo aplicado por fiscais do Detran, com os mesmos critérios rigorosos. A diferença é que o candidato pode se preparar de forma mais barata e personalizada. Estudos da Universidade de São Paulo mostram que motoristas que estudam por plataformas digitais têm desempenho igual ou melhor nos exames práticos do que os que passam apenas por aulas tradicionais.