O Agente Secreto vence melhor filme em língua não-inglesa na LAFCA e se aproxima do Oscar
dez, 9 2025
Na noite de 7 de dezembro de 2025, o cinema brasileiro fez história em Los Angeles. O Agente Secreto, dirigido por Kleber Mendonça Filho e estrelado por Wagner Moura, não apenas entrou na disputa pelo Oscar — ele se tornou um dos principais candidatos. Ao vencer a categoria de Melhor Filme em Língua Não-Inglesa da Associação de Críticos de Los Angeles (LAFCA), o longa superou concorrentes pesados como Foi Apenas um Acidente, do iraniano Jafar Panahi. E não parou por aí: ficou em segundo lugar na categoria principal, Melhor Filme, atrás apenas de Uma Batalha Após a Outra, um dos favoritos do ano. O resultado não foi surpresa para quem acompanha o movimento do cinema nacional. Mas foi um choque de realidade: o Brasil está de volta no centro do mapa cinematográfico global.
Um feito histórico para o cinema brasileiro
Só para contextualizar: desde a fundação da LAFCA, em 1975, apenas três filmes brasileiros haviam sido indicados à categoria de melhor filme em língua não-inglesa. Nenhum havia vencido. Agora, O Agente Secreto não só venceu, como fez isso em uma das premiações mais respeitadas dos Estados Unidos — uma que, historicamente, antecipa vencedores do Oscar. Nos últimos 20 anos, quase metade dos filmes que ganharam esse prêmio da LAFCA acabaram levando o Oscar. Isso não é coincidência. É um sinal. E o sinal está claro: a Academia está olhando.Além disso, o filme foi o único da América Latina entre os cinco finalistas da categoria. Isso é raro. Muito raro. E o fato de ter superado um filme de Jafar Panahi — nome consagrado no circuito de festivais, com três indicações ao Oscar — mostra que o trabalho de Mendonça Filho transcende fronteiras culturais. Não é só um filme brasileiro. É um filme universal, com uma narrativa que prende mesmo quem não conhece o contexto político do país.
Wagner Moura e o peso da atuação
Wagner Moura, que também atuou como produtor executivo, empatou com Timothée Chalamet (de Marty Supreme) no segundo lugar da categoria de Melhor Atuação. A LAFCA não separa atores de atrizes — uma abordagem moderna e corajosa que já foi adotada por outras premiações, mas ainda é rara. O fato de Moura estar entre os dois melhores do ano, ao lado de um nome como Chalamet, é um marco. Ele não está apenas representando o Brasil. Ele está representando a atuação — pura, crua, sem artifícios. Sua personagem, um agente duplo em um mundo de corrupção e silêncio, é um retrato da ambiguidade moral que assola sociedades modernas. E ele não apenas interpreta — ele encarna.Isso não é só mérito dele. O elenco é uma máquina de precisão: Zuaa, Rubens Santos, Udo Kier, Thomás Aquino, Suzy Lopes, Buda Lira, Carlos Francisco, Wilson Rabelo e Laura Lufési formam um time que não deixa espaço para falso. Cada cena é uma camada. Cada olhar, uma história. E tudo isso foi construído com um orçamento de R$ 45 milhões — 60% privado, 40% de incentivo fiscal. Nada de grandes estúdios. Nada de Hollywood. A produção foi da EmbraFilme, em coprodução com a norte-americana Neon Cinema. Isso é revolucionário.
Um filme que veio para ficar
É isso que importa. Não é só o prêmio. É o que ele representa. Depois de Fernanda Torres vencer o Globo de Ouro e o BAFTA por Quando Eu Era Vivo, agora é a vez de um filme inteiro. O Brasil não está mais apenas participando. Está competindo no mesmo campo que os grandes. E não está atrás.
O que vem a seguir?
O próximo passo é o anúncio das indicações ao Oscar, marcado para 23 de janeiro de 2026. Se O Agente Secreto for indicado como melhor filme — algo que já é considerado plausível por especialistas —, será a primeira vez que um filme brasileiro entra nessa categoria desde Central do Brasil, em 1998. A cerimônia acontecerá em 2 de março, no Dolby Theatre, em Los Angeles. Mas antes disso, em 4 de janeiro, o filme concorre aos Critics Choice Awards nas categorias de melhor filme de língua estrangeira e melhor ator para Wagner Moura.Se ganhar, será o primeiro prêmio importante do ano para o cinema brasileiro. Se perder, ainda assim, já venceu. Porque o que foi feito aqui não é só arte. É resistência. É prova de que, com coragem, visão e talento, um filme feito no Brasil pode tocar o mundo.
Frequently Asked Questions
Por que o prêmio da LAFCA é tão importante para o cinema brasileiro?
A Associação de Críticos de Los Angeles é uma das mais influentes do mundo e historicamente antecipa vencedores do Oscar. Só três filmes brasileiros foram indicados à sua categoria de melhor filme em língua não-inglesa desde 1975. Vencer é um sinal claro de que a Academia está prestando atenção — e aumenta drasticamente as chances de indicação ao Oscar. É um selo de qualidade reconhecido globalmente.
Quais são as chances de O Agente Secreto ser indicado ao Oscar?
Segundo a revista Variety e especialistas em premiações, as chances são altas. O filme já está entre os favoritos nas previsões de Oscar 2026, especialmente após vencer a LAFCA e ser aclamado em Cannes. Ainda não há confirmação, mas é um dos poucos filmes não-ingleses com potencial real para concorrer na categoria principal — algo raro para o cinema latino-americano nos últimos 25 anos.
Como o filme foi financiado e quem produziu?
O filme foi produzido pela brasileira EmbraFilme em coprodução com a norte-americana Neon Cinema, com orçamento total de R$ 45 milhões. 60% vieram de recursos privados e 40% de incentivos fiscais nacionais. Wagner Moura atuou como produtor executivo, o que mostra o envolvimento artístico e financeiro da equipe. Essa estrutura independente, sem grandes estúdios, é o que torna o sucesso ainda mais impressionante.
O que diferencia O Agente Secreto de outros filmes brasileiros que tentaram o mercado internacional?
Enquanto muitos filmes brasileiros focam em temas sociais diretos — favela, violência, desigualdade —, O Agente Secreto usa o suspense político como espelho da corrupção sistêmica, sem cair no exótico. A narrativa é universal, os personagens são complexos, e a direção é de uma precisão quase clássica. Isso permite que críticos internacionais o vejam não como "um filme do Brasil", mas como um grande filme, ponto.
Como o sucesso de O Agente Secreto pode impactar o cinema nacional?
O sucesso abre portas: novos produtores terão mais facilidade para conseguir financiamento, distribuidoras internacionais buscarão mais títulos brasileiros, e a indústria ganhará credibilidade. Além disso, o reconhecimento de Wagner Moura e Kleber Mendonça Filho serve de modelo para jovens cineastas — provando que é possível fazer cinema de alto nível sem depender de grandes orçamentos ou coproduções europeias.
O filme foi bem recebido no Brasil?
Sim. Estreou em 15 de agosto de 2025 e arrecadou R$ 28,5 milhões nas primeiras três semanas, um número impressionante para um filme nacional de linguagem complexa. O público não só compareceu, como discutiu o filme nas redes sociais, o que indica que ele ressoou além da crítica. É um sinal de que o cinema brasileiro pode ser intelectual e popular ao mesmo tempo.